Sempre que buscávamos um destino diferente de tudo o que já conhecíamos, acabávamos nos deparando com o Círculo Polar Ártico. E, aos poucos, nós começamos a gostar da ideia de conhecer um lugar de natureza selvagem e que passa boa parte do ano coberto de gelo.
E assim, decidimos ir para o Alasca em agosto de 2022. E a forma mais fácil de chegar até lá é a partir da cidade de Seattle no estado de Washington.
Nossa vontade era conhecer as regiões centro sul e interior do Alasca de carro e também ficar alguns dias em Anchorage, a principal cidade – e onde fica o maior aeroporto daquele estado. Mas, isso ainda não significava pisar no Ártico.
Ainda durante as pesquisas iniciais, descobrimos Utqiaġvik (antigamente chamada de Barrow), a cidade mais setentrional dos Estados Unidos (ou seja, o local mais ao norte do país) e o ponto mais distante onde é possível chegar na América. Como não tínhamos muito tempo sobrando, escolhemos uma excursão da Northern Alaska (Utqiaġvik Adventure – Overnight Tour) que parecia interessante pela descrição. A proposta do passeio era sairmos de Anchorage em um dia e voltarmos no dia seguinte. Mas, nem imaginávamos o que estava por vir.
Primeiro, não nos explicaram que o lugar é super remoto. É tão remoto que lá só se chega de avião. E pra completar, apenas uma companhia aérea faz voo comercial pra lá e uma vez por dia: a Alaska Airlines. E digo mais, grande parte dos voos é geralmente cancelada devido ao mau tempo.
Mas, antes de contarmos os detalhes da nossa aventura, vamos te dar um panorama sobre Utqiaġvik e depois trazemos nossas considerações sobre se vale a pena ou não visitar esse destino, ok?
CLIQUE AQUI para ler o nosso post completo sobre o Alasca.
SOBRE UTQIAĠVIK (BARROW)
Se você não era fã das aulas de geografia, talvez não se lembre, mas o Alasca pertence aos Estados Unidos, embora não esteja ligado “fisicamente” ao território do país. É lá que fica a remota cidade de Utqiaġvik localizada ao norte do Círculo Polar Ártico.
Utqiaġvik é a maior cidade do distrito de North Slope sendo também seu centro econômico, de transporte e administrativo. Além disso, é a cidade mais setentrional dos Estados Unidos e está entre as mais setentrionais do mundo.
Está cercada a norte, leste e oeste pelo Oceano Ártico – que permanece congelado durante a maior parte do ano – e ao sul pela tundra plana, um bioma típico de regiões muito secas e frias.
Utqiaġvik é o nome que foi dado à cidade pelos Iñupiat, povo indígena que habita a região há centenas de anos. Mas o local foi rebatizado em 1826 em homenagem ao Almirante britânico Sir John Barrow e acabou se popularizando entre os não-nativos do Alasca, já que, para eles, Barrow era muito mais fácil de pronunciar. Porém, em um referendo realizado em outubro de 2016, os eleitores locais decidiram devolver seu nome original, o que foi oficializado em dezembro daquele ano.
A região também é conhecida entre os Iñupiat pelo nome de Ukpeaġvik ou, em bom português, “lugar de caçar corujas das neves”.
Com pouco mais de 4.500 habitantes, mais de 60% são Iñupiaq. Eles ainda praticam alguns costumes de seus antepassados como a caça de subsistência, mesmo exercendo também outras atividades profissionais.
Porém, com o passar dos anos, apesar de lutarem para manter sua cultura, os novos descendentes dos Iñupiat têm deixado de falar a língua nativa fazendo com que parte de sua cultura acabe se perdendo.
As principais marcas da permanência desse povo na região há mais de 1500 anos são os sítios arqueológicos com vestígios de suas antigas casas. Se você for até a costa do Oceano Ártico também vai conseguir ver indícios da cultura Birnirk, outro povo que habitou a região centenas de anos atrás.
Há muitas empresas do ramo petroleiro em Utqiaġvik e são elas que empregam a maior parte dos moradores locais. Outros geradores de emprego são as agências estaduais e federais, além de companhias como a Arctic Slope Regional, uma das corporações nativas do Alasca criada em 1971 para incentivar o desenvolvimento do povo da região.
Em nossa pesquisa sobre a cidade descobrimos que nas décadas de 1940 e 1950 os militares foram bastante importantes por lá ajudando a atrair mais pessoas para a região. Foram eles que construíram a Distant Early Warning Line, um sistema de estações de radares que servia para detectar tentativas de invasão soviética na época da Guerra Fria. Os militares também foram responsáveis pela exploração da Reserva Nacional de Petróleo e pela construção do Naval Arctic Research Lab (NARL).
A cidade de Utqiaġvik é dividida em três seções: sul, central e norte, conhecidas pelos moradores como Utqiaġvik, Browerville e NARL, respectivamente.
Point Barrow é o ponto de encontro dos mares de Beaufort e Chukchi e a terra mais ao norte dos Estados Unidos, fica a cerca de 15 km ao norte do aeroporto.
A seção sul ou “Utqiaġvik” é a mais antiga e é onde se localizam locais como o aeroporto, a prefeitura, a polícia, o hotel King Eider Inn, alguns restaurantes, a Barrow High School e o banco Wells Fargo.
O único aeroporto da cidade é o Wiley Post-Will Rogers Memorial Airport e seu nome é uma homenagem a um famoso piloto e a um humorista que morreram em um acidente de avião na região em 1935.
A Ukpeaġvik Iñupiat Corporation (UIC) também fica nesta seção. Essa é a empresa que administra a propriedade dos recursos naturais dos povos indígenas.
A aldeia pré-histórica de Ukpeaġvik ocupava um local na costa do Mar de Chukchi nesta parte da cidade. Restos de casas de grama que datam 2.000 anos formam um grupo de montes baixos no local.
Já a seção central ou Browerville é mais residencial, embora tenha recebido várias empresas nos últimos anos. Essa região concentra serviços como a Tuzzy Consortium Library (uma biblioteca pública), o maior hotel da cidade o The Top of The World, alguns restaurantes, os correios, o hospital Samuel Simmonds Memorial e o museu Iñupiat Heritage Center. Esta seção é separada da seção sul por lagoas.
E a seção norte ou NARL é a menor e mais isolada das três e está ligada à seção central apenas por uma estrada de terra, a Stevenson Street. O “apelido” vem do Naval Arctic Research Lab, que foi construído nessa área em 1947 e funcionou ali até 1980 quando foi desativado devido ao alto custo das operações. Em 2005, a área foi reaproveitada para servir como uma faculdade comunitária, a Iḷisaġvik College, a única faculdade tribal no Alasca.
A população da cidade também tem acesso a igrejas, estação de rádio, mercearias e lojas de conveniência. A propósito, se você é exigente com a gastronomia, prepare-se para gastar bastante, pois os preços são altos já que grande parte dos alimentos chega à cidade de avião.
Utqiaġvik costuma ser procurada por um tipo muito específico de turistas: os mais interessados em conhecer a história e os costumes dos Iñupiat (povo tradicional do Alasca) e ver de perto a tradição dos caçadores de baleias, além da peculiar cultura do Ártico.
Entre junho e setembro, meses que marcam o verão no Alasca, as temperaturas sobem e começam a surgir diversas opções de pacotes turísticos para a região de Utqiaġvik. Um bom lugar para começar a conhecer a cultura do distrito, a propósito, é o Iñupiat Heritage Center.
A tundra é o principal bioma existente nessa região e se forma sobre uma camada de solo congelado, chamado de permafrost, que também é a principal cobertura das ruas da cidade.
Quando chegar, você vai notar que o design dos prédios segue a linha “utilitária” e clean. Boa parte das construções é construída sobre palafitas para não danificar suas estruturas em contato com o permafrost. Como o ar salgado e o vento são altamente corrosivos, muitos moradores preferem não repintar suas casas com frequência. Ainda existem casas em Utqiaġvik sem água e esgoto encanados. Se quiser conhecer uma curiosidade um pouco peculiar sobre essa questão diretamente de um local, pergunte a ele sobre os honey buckets.
A única maneira de entrar e sair da cidade é de avião, já que as estradas de Utqiaġvik não a conectam a lugar nenhum. Com isso, o aeroporto é a única porta de entrada e saída de Utqiagvik. A cidade depende exclusivamente de aviões para obter suprimentos vitais, como alimentos e medicamentos. Somente em alguns meses no verão, quando o oceano derrete, os navios podem navegar e transportar equipamentos grandes ou objetos pesados, como carros e móveis, o que impede que os habitantes comprem determinadas mercadorias na maior parte do ano.
Os Iñupiat são, acima de tudo, um povo resistente, que sobrevive à exploração de sua terra por empresas petroleiras e faz o possível para manter seus costumes vivos mesmo em um país que ainda tenta “colonizá-los”.
CURIOSIDADES
Acidente Rogers-Post: Em 15 de agosto de 1935, em um acidente de avião perto de Point Barrow, o aviador Wiley Post, famoso por ser o primeiro piloto a voar sozinho ao redor do mundo, morreu ao lado de seu amigo, o popular ator e humorista norte-americano Will Rogers. Eles estavam voando de Fairbanks para Barrow (atual Utqiaġvik) quando um nevoeiro se instalou e acabaram se perdendo. Eles conseguiram pousar o avião em Walakpa Bay. Chegando lá conversaram com um pequeno grupo de caçadores nativos e receberam instruções para a curta distância restante até Barrow (15 milhas ao sul). Após decolarem, o motor parou de funcionar e a aeronave caiu no lago, ambos morreram imediatamente após o impacto. Esse foi o primeiro acidente aéreo fatal perto da cidade de Utqiaġvik, e suas mortes prematuras foram uma perda muito grande para a nação. Há várias homenagens para Rogers-Post na cidade. Além do nome do aeroporto, há um memorial localizado no local do acidente, que é conhecido como Rogers-Post Site, e um monumento perto do aeroporto.
Fazendo um passeio com o guia turístico, conhecemos uma área da cidade onde ficam todas as antenas parabólicas, achamos interessante que não há nenhum fio conectando Utqiagvik a qualquer outra coisa. A energia é gerada fora da cidade por uma usina que funciona com uma reserva de gás natural. Todas as comunicações devem ser enviadas e recebidas por satélite ou rádio de longo alcance. Curioso, não?
Solstício de verão: dia 21 de junho marca o início do verão, a estação mais aguardada pela maioria da população do Alasca. É nesse período que o sol atinge seu ápice no hemisfério norte e é possível aproveitar dias mais longos e quentes em Utqiaġvik.
Experimente 24 horas de luz do dia: um fenômeno que só acontece nos dois polos da Terra é o sol da meia-noite. Entre 10 de maio e 02 de agosto, graças à inclinação da Terra, a luz do sol pode durar até 24 horas – é uma época bem interessante para visitar o local e experimentar dias “sem fim”.
O outro lado do sol da meia-noite: se no meio do verão o sol não se põe em Utqiaġvik, em meados de novembro a meados de janeiro ele nem nasce, o que deixa a cidade na escuridão 24 horas por dia. Esse fenômeno também tem nome: noite polar. Por mais que a maior parte dos moradores locais estejam habituados a esses extremos, nem todo mundo lida bem com eles, o que resulta em altas taxas de suicídio, depressão e abuso de drogas.
30 dias de noite (30 Days of Night): a noite polar de Utqiaġvik inspirou a criação da famosa minissérie de quadrinhos 30 Dias de Noite, que deu origem a um filme de mesmo nome de 2007, estrelado por Josh Hartnett e Melissa George. Na história de terror, um grupo de vampiros se aproveita da escuridão para atacar os habitantes da cidade.
On the Ice: filme de 2011 que teve a cidade como cenário – e teve vários habitantes como atores – conta a história de dois adolescentes que tentam superar a morte de um amigo depois uma viagem de caça a focas que deu errado.
Em 1988, Utqiaġvik virou notícia mundial por causa de três baleias-cinzentas da Califórnia que ficaram presas no mar congelado. Naquele ano, uma força-tarefa chamada de Operação Breakthrough conseguiu resgatar duas baleias. A história inspirou o filme O Grande Milagre (Big Miracle) de 2012 protagonizado pela atriz Drew Barrymore.
O primeiro jogo oficial de futebol americano do Ártico aconteceu em 2006, entre o time Barrow Whalers da Barrow High School, de Utqiaġvik, e a equipe da Delta Junction High School, da cidade de Delta Junction. Para comemorar a vitória, os jogadores e o técnico do Barrow Whalers pularam no Oceano Ártico. No ano seguinte o time de Utqiaġvik já tinha um novo campo de futebol, o Cathy Parker Field, feito de grama artificial. O jogo dos Whalers que inaugurou o gramado teve a participação do ex-jogador do Chicago Bears Dick Butkus e foi o primeiro evento esportivo dos Estados Unidos acima do Círculo Polar Ártico a ser transmitido ao vivo na internet. O campo ficou conhecido depois que a ESPN fez um documentário sobre ele. Quando passamos por esse campo, o guia nos contou que foram gastos 1 milhão de dolares para construi-lo, e que eles realizam apenas 4 jogos por ano.
Tuzzy Consortium Library: uma biblioteca localizada no Centro do Patrimônio Iñupiat que atende à comunidade do North Slope e oferece um bom acervo para os universitários do Iḷisaġvik College. Seu nome é uma homenagem a Evelyn Tuzroyluk Higbee.
Lei seca: se beber é a sua praia, é melhor ir preparado para Utqiaġvik, já que o comércio de bebidas alcoólicas é proibido por lá. Mas consumir e importar é permitido. Em compensação, o uso recreativo de maconha é legalizado no Alasca desde 2016 – mas apenas dentro de casa – e é possível encontrá-la em uma lojinha chamada Buds Below Zero que fica na seção central (ou Browerville).
COMO CHEGAR EM UTQIAĠVIK
Como comentamos antes, as rodovias em Utqiaġvik não são pavimentadas e não há estradas que levem para o resto do Estado.
A única maneira de chegar e sair de lá é de avião e somente a Alaska Airlines tem voos comerciais direto de Anchorage para o Wiley Post-Will Rogers Memorial Airport e vice e versa. Quando fizemos a viagem, em agosto de 2022, só havia um voo por dia.
Outras companhias aéreas regionais como a Wright Air Service oferecem serviços regulares de voo para algumas aldeias próximas e foi com ela que conseguimos sair da cidade.
Deslocar-se em Utqiaġvik não é um grande problema. Apesar da cidade ser bem pequena a oferta de táxis por lá é grande. As corridas dentro da cidade geralmente custam $6,00. Muitas pessoas contam com os táxis como meio de transporte principal, já que custa caro enviar um carro para lá. Além disso, os moradores utilizam muito quadriciclos e motos de neve.
QUANDO IR PARA UTQIAĠVIK
Quem vai para o Alasca já sabe que vai enfrentar dias gelados. Então já vá preparado com seus casacos mais quentinhos. Em Utqiaġvik, que está dentro do Círculo Polar Ártico, a coisa é ainda mais intensa. Afinal, tem as temperaturas médias mais baixas entre as cidades do Alasca. A temperatura lá, em geral, varia entre -28°C e 9°C ao longo do ano e os invernos são terrivelmente longos. Mas é possível cair para -38°C nos meses mais frios ou atingir os 15° no verão.
O período mais frio de Utqiaġvik dura cerca de quatro meses e meio entre novembro e abril. Durante o solstício de inverno o sol não aparece por lá e a cidade fica mais de 60 dias coberta pela escuridão, além de muita neve, vento e neblina.
Os termômetros só ultrapassam a marca acima do zero a partir de junho e isso dura pouco mais de três meses. É o período em que acontece o solstício de verão e quando o sol compensa os dias escuros do inverno brilhando ininterruptamente por várias semanas.
Você provavelmente vai preferir fugir do inverno de Utqiaġvik, não apenas por causa do breu total e do frio absurdo, mas também porque nessa estação a cidade oferece menos opções de instalações e serviços. Por outro lado, as chances de ver a belíssima aurora boreal são enormes nessa época do ano.
Ainda achamos que o intervalo de junho a setembro – que são os meses mais quentes – é o melhor período para visitar a cidade. Além de mais opções de passeios e voos, você também pode aproveitar os dias e noites com sol! Essa época também é interessante para quem quer conhecer os animais selvagens que começam a sair de seus esconderijos para receber a luz do dia. A vida marinha também volta à atividade nesses meses. Com um pouco de sorte é possível avistar algum urso polar caminhando pela cidade. Mas não se engane: eles são animais selvagens e costumam atacar humanos. Portanto, evite passear sozinho por longas distâncias.
E se você gosta mesmo é de ver os floquinhos de neve caindo, não se preocupe, porque mesmo nos meses mais quentes, isso pode acontecer.
O clima da região é polar, o que significa basicamente que é frio e seco. E no inverno, além das baixíssimas temperaturas, o vento pode tornar a sensação térmica ainda menor. Como a cidade é cercada pelo oceano e pela tundra plana com sua vegetação rasteira, não existem barreiras para o vento cortante.
Outra característica que torna essa cidade única é o fato de ser um dos lugares mais nublados da Terra, já que fica encoberta mais de metade do ano graças ao vento leste do Ártico. O período de maior nebulosidade é entre agosto e setembro quando o oceano está derretido. Nos meses de verão você pode se deparar com um denso nevoeiro. No inverno, especialmente nos dias mais gelados, uma névoa de gelo toma conta do ar.
Em agosto, quando nós fomos, pegamos entre -1°C e 5°C. E mesmo com as temperaturas não sendo tão baixas para Utqiaġvik, a neblina e o vento cortante nos acompanharam o tempo todo. E não vimos uma noite sequer por lá. À meia noite ainda estava claro.
O QUE FAZER EM UTQIAĠVIK
Por ser um dos lugares habitados mais antigos dos Estados Unidos, não falta história para conhecer em Utqiaġvik. O ideal é passar algum tempo caminhando pela cidade e conhecendo alguns pontos.
Fazer um tour para conhecer a cultura local: no verão os operadores turísticos oferecem pacotes de passeios que podem incluir a observação de ursos polares, fotografar corujas da neve e conhecer mais sobre a história e a cultura do povo Iñupiaq. Durante os passeios você pode apreciar a beleza das canções nativas que muitas vezes contam histórias fascinantes.
Um tour muito conhecido por lá é o Tundra Tours (Top of The World Hotel). Conhecemos alguns turistas que contrataram o tour diretamente no hotel e gostaram bastante. Nós fizemos o nosso passeio na cidade com o Mike Schulz, que vive há mais de 40 anos em Utqiaġvik. Foi um passeio bem informativo e mais adiante vamos dar mais detalhes.
Point Barrow: ponto mais ao norte dos Estados Unidos, fica em torno de 15 quilômetros ao norte do aeroporto. Você vai precisar participar de algum tour ou contratar um táxi para conhecer esse lugar. O guia nos levou até lá. Há uma base aérea aqui nas redondezas também que você pode conferir.
Caminhe na praia e coloque os pés no gelo do Oceano Ártico: uma das atrações mais visitadas do Alasca é o Oceano Ártico. Ele oferece um visual lindíssimo e uma vida selvagem impressionante. Vale a pena aproveitar o fácil acesso e arriscar mergulhar pelo menos um dedo na água gelada! No tour você acaba ganhando um certificado “Polar Bear Plunge” por ter tido a coragem de entrar no oceano. Bem divertido!
Iñupiat Heritage Center: museu dedicado à valorização dos povos nativos do Alasca. Apresenta uma visão fascinante de uma das culturas mais antigas do mundo. Além de uma coleção rara de artefatos e de exposições que mostram as tradições, a tecnologia e a história dos Iñupiat, você também vai conhecer objetos do cotidiano desse povo como roupas, ferramentas e obras de arte que refletem a riqueza dessa cultura. Vale a pena também dar uma olhada na salinha que os artistas fazem artesanatos. É muito legal o trabalho deles.
Vários locais próximos estão no Registro Nacional de Lugares Históricos como o Point Barrow Refuge Station, também conhecido como Cape Smythe Whaling & Trading Station, um edificio histórico localizado na seção de Browerville. O prédio foi construído em 1889 para ser usado como uma estação baleeira e, embora hoje esteja desativado, vale a pena visitar, já que é o edifício com estrutura de madeira mais antigo de Utqiaġvik. Para conhecer outro local relevante da história da cidade, siga para oeste do terminal da Alaska Airlines no aeroporto e veja o Will Rogers & Wiley Post Monument. Ao seu lado ao seu lado há uma placa indicando a direção e distância para vários lugares ao redor do mundo.
Whale Bone Arch: se você escolhe os passeios pela probabilidade de tirar boas fotos, já pode incluir o Whale Bone Arch no seu roteiro. O local fica próximo a Cape Smythe (a antiga estação baleeira) e ostenta um enorme arco feito com os ossos da mandíbula de uma baleia-da-groenlândia. A obra dá uma noção do tamanho desses belíssimos animais e tem como pano de fundo o Oceano Ártico. E se você for corajoso o suficiente, ainda pode finalizar o passeio dando um mergulho no mar ou caminhando ao longo do Lagoon Boardwalk.
Observação da vida selvagem: Utqiaġvik abriga uma variedade de espécies de animais que você não verá em nenhum outro lugar do mundo. Com a chegada da primavera, animais marinhos daqueles que só vemos em filmes como morsas, focas, belugas e baleias dão o ar da graça nadando na superfície do oceano e proporcionando fotos lindas. Além delas, o famoso Steller’s Eider (um pato marinho muito fofo) também costuma aparecer para um mergulho. Prepare a memória do celular para fotografar as graciosas aves migratórias e traga seus binóculos para ver a majestosa coruja das neves. Em terra, raposas e caribus também podem ser vistos com certa facilidade. Durante alguns meses da primavera e do outono é possível até ver ursos polares sobre blocos de gelo. Como fomos no verão, todo o gelo estava derretido – o que tem acontecido nos últimos anos – e, isso reduziu bastante as nossas chances de vê-los. Porém, um grupo que fez o passeio antes de nós conseguiu ver um. Você pode contratar um guia para conhecer os locais de observação de animais ou fazer o percurso por conta própria. Nós, infelizmente, não tivemos tanta sorte de ver diferentes espécimes. Vimos algumas corujas da neve e outros pássaros. Mas, tudo com uma certa distância.
Observação da aurora boreal: um dos fenômenos mais impressionantes da natureza, a aurora boreal, faz com que o céu de inverno exploda em uma variedade de cores espetaculares. Muitos turistas vão ao Alasca apenas para vivenciar essa experiência que, de fato, deve ser inesquecível. Infelizmente, não tivemos essa sorte pois quase não escurecia quando estávamos lá. A melhor época para visualização da aurora boreal é de outubro a março.
Nalukataq Whaling Festival: se você for a Utqiaġvik no mês de junho poderá aproveitar o Festival da Baleia de Nalukataq, uma tradição do povo Iñupiat, realizado após a temporada de caça às baleias na primavera. O evento que reúne apresentações de canções e danças é uma forma de agradecer a temporada de caça bem-sucedida.
ONDE COMER EM UTQIAĠVIK
Mesmo sendo uma das cidades mais isoladas do continente, há boas opções gastronômicas em Utqiaġvik. Com destaque para as culinárias coreana e japonesa. Infelizmente, se você está procurando comida típica Inupiat não encontrará. Porém, vimos algumas comidas locais como sopa de rena no restaurante do hotel Top Of The World. Vale lembrar que os restaurantes costumam fechar cedo. Então, é bom se programar.
Osaka Restaurant: restaurante japonês com uma variedade bem interessante de opções.
Sam & Lee’s Restaurant: coreano mais famoso da cidade e muito popular por suas porções generosas.
Liliana’s Fresh Bake & Cruz’s Mexican Grill: autêntica comida mexicana e sobremesas gostosas.
East Coast Pizzeria: oferece os serviços de entrega e retirada e a vantagem é que fica aberto até mais tarde. Pedimos delivery e a pizza era bem gostosinha.
Niġġivikput: restaurante do hotel Top of The World. Comida variada e com um menu bem extenso. A comida é bem gostosa. Foi onde fizemos quase todas as nossas refeições. Amamos as panquecas com chocolate chip!
Stuaqpak Quick Stop: uma pequena mercearia que fica a 700 metros do aeroporto. Comemos um frango picante com batatas que nós adoramos!
Stuaqpak: é a maior mercearia da cidade e é localizada perto do Iñupiat Heritage Center. Vende alimentos básicos como carne e ovos a materiais de construção. Tem uma delicatessen com comida quente e uma cafeteria bem gostosa.
ONDE SE HOSPEDAR EM UTQIAĠVIK
Há pouquíssimas opções de hospedagem em Utqiaġvik. E além disso, não é barato. Por exemplo, um quarto duplo custava mais de $200 a noite: uma facada!
King Eider Inn: Quase em frente ao aeroporto. Esse hotel é bem simples e decorado com móveis de pinho. Os hóspedes dispõem de sauna privativa e lareira aconchegante no saguão. Os quartos são equipados com frigobar, cortinas blackout e TV a cabo e são acessíveis para pessoas em cadeiras de rodas.
Top Of The World Hotel: Localizado no centro e pertinho do Whale Bone Arch. É o maior hotel da cidade e onde nos hospedamos. Dispõe de 70 acomodações espaçosas, algumas com vista para o mar. Além disso, tem um restaurante próprio, o Niġġivikput, que oferece café da manhã, almoço e jantar. Os quartos têm TV de tela plana, telefone, ferro e tábua de passar roupas, cafeteira, ventilador, escrivaninha e uma cadeira de leitura.
Latitude 71 BnB: Essa pousada fica próxima ao Iñupiat Heritage Center e é basicamente uma casa mobiliada com uma coleção de móveis ecléticos de 25 anos. Oferece café da manhã completo, sala de TV e lavanderia, além de muito espaço aberto. Conta com 10 quartos simples com TV a cabo e Wi-fi.
NOSSA EXPERIÊNCIA EM UTQIAĠVIK
Como comentamos lá em cima, fechamos o tour Utqiaġvik Adventure Overnight com a agência Northern Alaska. A ideia era ir em um dia e voltar no outro.
Nossa aventura começou no dia 16 de agosto de 2022. Como a intenção era voltar no dia seguinte para Anchorage (cidade onde estávamos hospedados), deixamos nossas malas e o carro no hotel e partimos apenas com uma mochila para pegar o voo da Alaska Airlines para Utqiaġvik (Barrow).
A cidade é pequena, então um dia parecia ser perfeitamente suficiente para fazer tudo o que a agência tinha apresentado. O avião decolou às 14h15 e pousou em Utqiaġvik uma hora e 45 minutos depois.
Ao chegarmos, a primeira impressão foi a de um lugar um pouco precário com o menor aeroporto que já vimos na vida (era apenas um saguão), ruas de terra, sem nenhuma vegetação (afinal, só existe a tundra lá), além de muita névoa. E o frio então, estava surreal. Muito frio mesmo.
De lá pegamos o transfer para o Top of the World Hotel. Feito de containers, esse hotel é o maior prédio da cidade (é comum por lá que as instalações públicas, como escolas, sejam feitas de containers).
A decepção começou já na recepção do hotel. Fomos informados de que o nosso quarto não estava pronto e não havia previsão de quando ficaria (lembrando que o check-in era às 14h). Decidimos sair para caminhar e explorar a cidade o máximo que podíamos. Como era o finalzinho do verão, quase não escurecia. Então, era possível ficar na rua por mais tempo.
Logo atrás do hotel encontramos uma das principais atrações da região, o Whale Bone Arch, com as enormes mandíbulas de baleia formando um arco. Fizemos algumas fotos e fomos colocar a mão no mar do Ártico (pensa num gelo!).
Caminhamos um pouco mais pela rua principal e vimos muitas casas de madeira e ferro com bastante lixo e entulho acumulados. Vários quadriciclos passavam em alta velocidade (imaginamos que a galera local usa o veículo para se divertir e espantar o tédio).
Durante a caminhada pela rua principal passamos por vários locais como uma casa de cannabis, os correios, o corpo de bombeiros, uma quadra de basquete, o centro cultural Iñupiat Heritage Center e, logo ao lado, um supermercado. Mesmo sendo o maior mercado da cidade, notamos que vários produtos estavam em falta e o preço era muito maior do que em outras cidades do Alasca. Provavelmente pela dificuldade logística de trazer produtos de fora.
Voltamos ao hotel às 19h30 e o quarto ainda não estava pronto. Depois de mais meia hora de espera, às 20h00, finalmente liberaram a acomodação, mas… (sempre tem um “mas” para estragar tudo) nos avisaram que não poderiam nos dar a chave. Isso mesmo, teríamos que pedir para alguém da recepção abrir a porta todas as vezes que quiséssemos entrar no quarto. Tudo muito estranho, mas fazer o quê?
Aí, para completar, quando fomos ao restaurante do hotel às 20h15 para jantar estava tudo fechado, apesar do site informar que funcionava até às 21h. Nossa solução foi pedir um delivery em um lugar que o pessoal da recepção nos indicou (East Coast Pizzeria). Pelo menos essa experiência foi boa porque a pizza era uma delícia.
É importante ficar sempre atento aos horários em Utqiagvik, pois tudo fecha bem cedo por lá. E na internet constam muitas informações erradas quanto a horários de funcionamento.
Para sermos justos com o hotel, tirando toda essa confusão inicial, o lugar é bem bacana, com uma decoração bonita repleta de quadros e fotos de animais da região espalhados pelos dois andares do prédio. O restaurante serve café da manhã, almoço e jantar com bastante opções. Tudo muito bem preparado e saboroso. Dentro do hotel ainda tem uma pequena loja de conveniência com itens básicos. O quarto em si era confortável, bem espaçoso e com uma cama boa.
Mas o “pesadelo” recomeçou no dia seguinte. Depois do café da manhã no hotel, saímos para um passeio que fazia parte do tour, com um guia chamado Mike Schutz, morador de Utqiaġvik há mais de 40 anos e que, portanto, conhecia bem a cidade.
Quando fechamos o passeio, recebemos a informação de que o tour passaria pelas áreas residenciais e comerciais da comunidade para que nós conhecêssemos um pouco da vida local. Além de passear na beira do oceano, conhecer uma lojinha de souvenirs, entre outras coisas. Porém, na prática, o passeio foi bem menos que isso.
Durou pouco mais de uma hora. Com uma passada rápida por algumas casas onde o guia nos contou um pouco sobre a história delas. Ficamos sabendo que muitas casas ficam lotadas de coisas ao redor, parecendo um ferro velho, porque lá não existem lojas ou eficinas de peças, então eles guardam tudo, pois não sabem quando vão precisar de algo.
Também conhecemos a área de NARL, o cemitério, além dos satélites instalados ali para estudos meteorológicos.
A loja de souvenirs descrita no passeio era o mercado que visitamos no dia anterior. Para finalizar, ele nos levou até a ponta da cidade, passando por casas simples e algumas de “veraneio”, a maioria vazias. Depois fomos até o ponto mais ao norte do continente (Point Barrow) onde é possível chegar de carro e fizemos algumas fotos.
Expectativa: entrar em uma das vilas, conhecer as pessoas e saber mais sobre a cultura local;
Realidade: uma hora dentro do carro ouvindo o Mike falar sobre a cultura local.
Descobrimos que ainda existem muitas casas residenciais em Utqiaġvik sem água encanada e saneamento básico. Para os dejetos, são usados o que eles chamam de honey buckets (caixas e toneis colocados próximos às casas). A ausência dessa estrutura básica e que interfere na saúde pública é questão local polêmica e até hoje sem solução devido às condições remotas e que demandam altos investimentos. O grande desejo dos moradores da região é que um dia não tão distante os honey buckets sejam peças de museu.
Outro ponto importante é como as mudanças do clima e aquecimento global estão alterando o solo da região. Seu aquecimento ao longo dos anos provoca o degelo do permafrost, camada de solo congelada, trazendo sérios problemas. Em certos locais o degelo acarreta afundamentos e erosão de grandes extensões de terra afetando o litoral, a paisagem, construções estradas e infraestrutura. Observamos que nesses lugares moradores e administração locais constroem barreiras feitas de sacos de areia com o objetivo de tentar proteger o permafrost das ondas salgadas do mar que avança cada vez mais acelerando o degelo e a erosão. Mas, o mar continua a avançar.
Tour finalizado, o guia nos deixou no hotel às 14h e decidimos ir ao Iñupiat Heritage Center, pois nosso voo era apenas às 17h. Exploramos o local e achamos o lugar legal e bem informativo. O que gostamos mais foram os animais empalhados. Eram perfeitos! A descrição da cultura da comunidade local é muito rica em detalhes.
Uma curiosidade que o guia nos contou, é que os ursos polares as vezes tem o pelo um pouco amarelado, e não é 100% branquinho igual a neve, isso se deve devido ao óleo dos animais que eles comem, como por exemplo, uma baleia. O óleo deixa a pele deles mais amareladas.
Quando retornamos para o hotel e estávamos esperando o transfer para retornar ao aeroporto, recebemos uma mensagem da Alaska Airlines informando que o voo de volta a Anchorage tinha sido cancelado. O detalhe é que em agosto a Alaska Airlines estava operando apenas um voo por dia de Utqiaġvik para Anchorage.
Tivemos que ir até o aeroporto (nós e todos os outros hóspedes que iam embora naquele dia) para remarcar a passagem. E quando finalmente fomos atendidos descobrimos que só tinha disponibilidade para o voo no sábado, e era quarta-feira. Isso mesmo: teríamos que esperar três dias para voltar para Anchorage.
A Alaska Airlines não prestou nenhum tipo de suporte quando questionamos o cancelamento e insistimos em saber se haveria outras opções. Os funcionários da companhia aérea pareciam zombar de nós e estavam zero dispostos a nos ajudar. Só ouvíamos que a única opção era entrar na fila de espera dos próximos dias.
Voltamos para o hotel e entramos em contato com a agência Northern Alaska que nada fez além de dizer “sorry”. Nós não recomendamos essa agência de jeito nenhum. Na hora da venda são excelentes. Mas, quando ocorreu problemas não prestaram nenhuma assistência. Inclusive, tínhamos agendado um outro passeio com eles saindo de Fairbanks no dia 21 e cancelamos.
Depois de algumas horas, o desespero começou a bater. Nossa preocupação era perder os próximos trechos da viagem que já estavam todos programados: hotéis reservados em Talkeetna e Denali, passeios comprados, etc. Mas, no meio de tudo isso, descobrimos uma outra companhia aérea: a Wright Air Services. Ela opera com pequenos aviões monomotores levando até 10 passageiros e que conseguem voar mesmo com muita neblina.
Em geral, quem utiliza esses aviões são os moradores locais para ir a vilarejos próximos. Ficamos sabendo que vários funcionários de empresas da região optam pela Wright Air justamente porque sabem que os voos da Alaska Airlines correm grande risco de serem cancelados por conta da neblina. Mesmo assim, o único voo que conseguimos foi para Deadhorse em Prudhoe Bay, um vilarejo no ártico com partida na sexta-feira. De lá teríamos que pegar um voo no dia seguinte da Alaska Airlines para Anchorage. Compramos por precaução, rezando para não ter que utilizar a passagem.
Em resumo, os voos da Alaska Airlines de quinta e sexta-feira – em que estávamos na fila de espera – foram cancelados. Mesmo os horários extras que a companhia abriu foram suspensos, pois o avião não conseguiu aterrizar. O hotel virou um caos, com hóspedes desesperados e atordoados sem saber como resolver a situação. Nunca vimos nada parecido antes.
Foram dias ligando para a Alaska Airlines pedindo suporte, gastando com mais diárias no hotel (que eram bem caras), comprando passagens disponíveis para todos os outros dias, além da angústia de não saber quando iríamos embora. Nosso carro estava estacionado no hotel em Anchorage e nossas coisas estavam no quarto, que naquela altura, já deveríamos ter feito checkout. Nós perdemos passeios que já estavam reservados (tivemos que ligar para todos os lugares explicando a situação). Conhecemos alguns casais de americanos e canadenses que estavam na mesma angústia que nós e todos diziam a mesma coisa: “se soubéssemos que existia o risco de passar por todo esse perrengue e perder a nossa viagem, com certeza não teríamos vindo. Não tem nada aqui que valha a pena esse risco”.
Depois de mais dois dias de voos cancelados e sem previsão de fim da neblina, decidimos ir com a Wright Air para Prudhoe Bay, uma cidade também no ártico mas que tem acesso por estrada e o índice de cancelamento de voos é menor, já que o tempo por lá é bem melhor. O avião era um Cessna 208. E eu, Fernanda, fiquei com muito medo de voar. Mas, o medo de perder o resto da viagem era maior ainda. Então, mandamos ver.
Desembarcamos na comunidade de DeadHorse em Prudhoe Bay no final da tarde e fomos caminhando do aeroporto até o que deveria ser nosso hotel, o Prudhoe Bay Hotel, a poucos metros da pista de pouso. Mas como a vida não estava fácil, ao chegar lá deparamos com um hotel vazio e que parecia abandonado. Porém, chegando mais perto, vimos um aviso na porta que pedia para os novos hóspedes ligarem para um número de telefone.
Um casal de canadenses que estava conosco ligou e uma van apareceu para nos levar até um outro hotel chamado The Aurora Hotel, que ficava ali perto. Durante o caminho pudemos notar que estávamos em uma cidade bem pequena e industrial com diversas fábricas e maquinário de petróleo e energia.
Ao entrar no hotel percebemos as mesmas características do nosso antigo hotel em Utqiaġvik. Também feito de containers, porém muito maior. E uma curiosidade interessante é que 99% dos hóspedes pareciam ser trabalhadores das fábricas locais.
Uma ótima surpresa depois de dias de angústia: o buffet era livre, ou seja, podíamos nos servir de tudo à vontade. E quando dizemos que a surpresa foi ótima é porque tinha de TUDO: hotdog, pizza, hambúrguer, salada, batatas, massa, donuts, sucrilhos, frutas… O que você imaginar. E, além disso, as mesas das refeições eram no estilo “comunitário” como em escolas, onde várias pessoas comiam juntas.
O quarto era pequeno e simples. Mas, serviu muito bem para nos acomodar durante a noite que passamos lá antes de finalmente embarcarmos para Anchorage, onde deveríamos ter chegado três dias antes.
No dia seguinte (sábado) conseguimos, até que enfim, chegar em Anchorage com o voo da Alaska Airlines.
Muita gente acompanhou a nossa “saga do Ártico” no Instagram e perguntou porque resolvemos nos meter nessa. Na real, como dissemos antes, se soubéssemos de todos esses riscos e o que iríamos de fato conhecer, não teríamos ido. Mas, já que fomos, temos mais essa história para contar e podemos oferecer mais informações para quem está pensando em ir para Utqiaġvik.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência de viajar é algo muito particular. Por isso, é complicado afirmar se vale ou não a pena ir a um determinado lugar. Ainda mais se o destino é tão diferente de quase tudo. Os interesses, gostos e estilos de viajantes podem ser os mais diversos. Algumas pessoas sentem que a gastronomia faz toda diferença em uma viagem. Outras, não estão nem aí para as compras. Umas querem apenas saber se vai fazer sol. Outras ainda preferem saber se o povo é hospitaleiro, e assim por diante.
De qualquer forma, nós acreditamos que existem coisas em que 99% das pessoas devem concordar e que podem usar para balizar se o destino vale a pena. Umas das coisas é o perrengue: ninguém gosta de passar por situações que comprometem seriamente a vibe da viagem. A segunda é o dinheiro: ninguém gosta de se ver obrigado a desembolsar um dinheiro que não estava previsto por conta do perrengue. Dito isso, vamos às nossas considerações.
Nós chegamos a Utqiaġvik com uma visão um pouco fantasiosa do que seria a cidade. Talvez pela maneira como a agência nos vendeu o tour, o que as pessoas que conhecemos no Alasca falaram e o que vimos em sites antes de ir. Um lugar diferente de tudo que já vimos, na “última fronteira do mundo”, onde conheceríamos povos nativos e lugares interessantes. A cidade em si é realmente bem diferente de tudo e a impressão que tivemos é que as pessoas acumulam muito ferro velho. Na época em que fomos, notamos muito lixo acumulado e como as ruas não são pavimentadas, tivemos a sensação de que não estão limpas.
Quando fomos o clima era bem frio (muito mesmo!), com muita névoa e vento. O hotel em que nos hospedamos até que é bacana. Mas, peca em alguns detalhes de estrutura e organização como a falta de cartões (chaves) para todos os hóspedes e a demora absurda no check-in. Além disso, os produtos no supermercado e comidas nos restaurantes são bem mais caros que a média das outras cidades do Alasca.
Tudo é bem simples na cidade e, embora tenhamos aprendido um pouco sobre a cultura local durante o tour, não vimos muitas pessoas ou algo que se destacasse na comunidade como nos disseram na agência. Além disso, um dia é mais que suficiente para conhecer Utqiaġvik.
O maior contratempo que você pode enfrentar é a instabilidade do clima, com muita névoa a ponto de ocasionar o cancelamento de voos por vários dias e te manter “preso” na cidade sem saber quando vai conseguir sair. Além disso, com a falta de informação e total desinteresse das agências e da companhia aérea Alaska Airlines em ajudar, a nossa sensação foi a de que estávamos sozinhos sem ter a quem recorrer e as pessoas que deveriam nos dar suporte traziam mais agonia do que alívio.
Na nossa opinião, se você tem bastante tempo disponível e pode correr o risco de perder alguns dias caso o clima vire de repente, vale a pena ir. Do contrário, não recomendamos a aventura, especialmente pelas poucas atrações que o lugar oferece.
Em resumo, foi interessante conhecer uma cidade isolada do mundo e ver como vivem os povos antigos mantendo sua cultura viva. Além disso, conhecer o Ártico e ter a oportunidade de pisar na cidade mais ao norte dos Estados Unidos é realmente uma experiência única. Ver de perto o Whale Bone Arch e tocar o Oceano Ártico pela primeira vez foi um daqueles pontos altos da viagem, a despeito da sujeira e do entulho. Talvez o período de neve apresente atrações mais interessantes como o urso polar que costuma seguir o gelo.
Em outras palavras, foi tanto perrengue que, num balanço geral, concluímos que a experiência não compensou todo o dinheiro que gastamos e os prejuízos que os atrasos nos causaram. Então, nossa dica é que, caso decida ir, não marque nenhum outro passeio nem compre passagens para os dias seguintes para evitar perdas. E, para finalizar, tenha sempre um dinheiro extra para usar em caso de imprevistos.
Mas, me diz aí, depois do que contamos aqui você teria coragem de ir para Barrow?
Se quiser saber mais sobre o Alasca, não deixe de dar uma olhada nos nossos outros posts: